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  08/08/2024  •  Política | Sociedade  •  65 hits  •  0 comentários ⇣

Nicolás: o Maduro que não cai de podre

Se existe uma coisa boa em relação ao fato de se cultivar uma postura democrática é que a gente, mesmo com uma tendência em seguir uma linha ideológica mais para um lado do que para outro, mantém relações de amizade diversas com pessoas de diversos pontos de vista. Isso permite ter uma impressão mais ampla sobre as linhas de pensamento do momento em relação a determinado aspecto político


A bola da vez é a eleição de Nicolás Maduro para o possível terceiro mandato na Venezuela, eleição essa recheada de incertezas - e acusações, tanto dos concorrentes quanto dos atores externos autoenvolvidos no processo. A Venezuela já foi um país rico, graças às relações comerciais capitalistas internacionais proporcionadas pelo boom das exportações de petróleo no país. Hoje, vive na penúria, em parte pelas tão faladas sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos, em outra parte pela má administração interna.


A esquerda brasileira - que é a que eu conheço de verdade - insiste no argumento de que foi o simples fato da imposição das sanções que levou a Venezuela à derrocada, quando os economistas dizem que isto se deveu muito mais a um problema administrativo. No período em que tinha muito dinheiro, o país perdeu a oportunidade de reinvestir esse ganho com o "ouro negro" em outras atividades produtivas como, por exemplo, a produção tecnológica. 


O fato é que Nicolás Maduro, depois que Chávez faleceu em 2013, assumiu o controle do país, ao que parece em caráter permanente e principiando uma administração controversa e recheada de problemas relacionados a direitos humanos, tanto para a população que o apoia quanto para seus opositores. A esquerda brasileira, que diz prezar tanto por esses direitos humanos, se recusa a enxergar esses casos e passa panos quentes sempre que o autocrata se envolve em questões de perfil duvidoso - como as possíveis milhares de mortes imputadas a ele. Se Maduro, quando mais jovem, já nutriu algum sentimento de compaixão pelo seu semelhante, pelo visto, isso desapareceu junto com o dinheiro que veio do petróleo.


A verdade é que essa eleição dividiu o planeta. Muita gente, inclusive, e essencialmente da esquerda, questiona o fato de que, com tantos outros acontecimentos ocorrendo no mundo, gaste-se tanta mídia com essas eleições. Mais ou menos como se sucedeu com o governo passado, não faltaram pessoas para defender o "injustiçado" grande líder Bolsonaro que tinha o mundo contra si. No mundo ninguém prestava - a não ser os bolsonaristas. Devaneios à parte, não fica bem para nossa esquerda mostrar que só acredita numa mídia que apenas diz o que ela quer ouvir - mais ou menos como fazia o lado oposto a ela, a direita bolsonarista. 


Lula, que hoje cobra uma postura do governo venezuelano em relação ao resultado dessa eleição, já teve também seu momento de "passar a mão na cabeça" proferindo a incrível bobagem de que "democracia é uma questão relativa". Procuro acreditar que nosso presidente, agora, teve um arroubo de consciência e deixou a cegueira esquerdista de lado para acreditar menos em ideologia e mais em fatos. 


Maduro, que se utiliza de palavras-chave para defender suas ideias em seus discursos como  "imperialismo", "pegar em armas" e "revolução bolivariana", provavelmente será o "vitorioso" dessas eleições, ao que tudo indica. Com a Justiça do país e as forças militares do seu lado, fica difícil competir, principalmente, como ele mesmo advertiu, porque sua derrota poderia gerar um banho de sangue. Pelo visto isto já está acontecendo, mas não com a derrota e sim com sua vitória. Quem se atreve a confrontar? 


Se isso é ser de esquerda, me enganaram durante muitos anos. 


Hoje, os Estados Unidos são o maior produtor de petróleo do mundo (Rússia e Arábia baixaram suas produções para conter a queda do valor da commodity), enquanto que a Venezuela não figura nem entre os 10 maiores. Mas sabe-se que tem as maiores jazidas, segundo se divulga, e, por incrível que pareça, é o sexto país a vender mais petróleo aos EUA (???). Fica então a dúvida se realmente faz sentido a ideia de que os EUA - que têm um petróleo de maior qualidade que a Venezuela - impõe sanções apenas para tentar falir o país e se apossar de suas jazidas. Para um país como os "States", que costuma meter o bedelho em outros territórios que não são os seus, tudo é possível. Mas para a esquerda essa ideia já tomou forma de obsessão. 


Mas, definitivamente, essa eleição não é uma escolha da esquerda de outros países e nem da possível "esquerda" venezuelana, mas uma escolha dos habitantes da Venezuela. Se o governo opositor eleito (pelo menos, este proclama sua vitória) será um governo tão ruim ou pior (o que é muito difícil) quanto o do autocrata Nicolás Maduro, isso, em primeiro lugar, é um problema de quem elegeu esse governo: um problema dos venezuelanos. Se isso vai interferir na relação desse país (Venezuela) com outros países e se isso será bom ou ruim para algum deles ou para todos, já é uma outra questão.


Essa, aliás, é uma questão que nós, infelizmente, e se tivermos um pouquinho de humildade para entender, não temos como fazer intervenção. Quando em 2018, Bolsonaro foi eleito aqui, isso foi democrático e a esquerda brasileira teve a maturidade de aceitar (e não teve banho de sangue por nenhum dos lados). Da mesma forma, quando Lula foi reeleito em 2022, isso também foi democrático e a parte da população que se diz de direita teve de aceitar - mesmo que uma menor parte não tenha engolido isso (leia-se o apoio à invasão no Congresso Nacional). 


Fácil (e arrogante), portanto, um alguém (que não passa de um espectador) tentar definir como devem ser os rumos políticos de um país em crise morando em outro com uma situação eoconômica muito melhor. Fácil dizer quem deve governar, que lado ideológico o país deve tomar, como os indivíduos desse país devem se posicionar, etc.  Enquanto que lá (Venezuela) mal se ganha para conseguir comer, aqui se almoça em conformidade com o apetite ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, se acessa Youtube, Facebook, Whatsapp, Instagram e todos os recursos capitalistas proporcionados justamente pelo país que faz as sanções impostas à Venezuela - e que se condena. Ser politizado assim fica fácil. 


Ao que parece, contudo, essa obsessão de Maduro por poder - e que é apoiada por suas forças armadas e por parte das esquerdas mundiais - fará com que essa permanência no cargo se torne vitalícia. Para a esquerda que não mora na Venezuela (e que não consegue entender que um governo autoritário, repressor e absolutista não pode ser verdadeiramente representativo da esquerda) essa não é uma questão relacionada a vidas humanas (vidas essas que para se proteger têm que se calar ou fugir - quando não morrem lutando), mas uma questão vergonhosamente e puramente ideológica. 


O velho embate do "bom" tentando vencer o "mau" enquanto gente como a gente - e que a gente não conhece - morre por fome, tiro ou tentando cruzar uma fronteira de um país qualquer para fugir da desgraça que só sua pele consegue sentir. 


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